jueves, 5 de abril de 2012

Dia 60 Sábado 10.03.2012 Antigua

 

Antigua é uma cidade colonial com 58,150 habitantes, com estatudo de ‘Unesco World Heritage Site’ e o seu nome deriva do facto de ser a ‘Antigua’ capital da Guatemala. Devido a constantes tremores de terra durante o periodo colonional a capital foi transferida para outra cidade, simplesmente chamada Guatemala. Antigua situa-se entre três vulcões- Água (3766m), Fuego (3763m) e Acatenango (3976m)'- e, por onde se caminhe e por onde se olhe há algo que nos faz exclamar. A cidade é uma mistura de casas e ruas renovadas e outros edíficios aos quais apenas restam ruínas. Apesar de ter sido várias vezes destruída por desastres, a resistência e orgulho dos seus habitantes (e com certeza injeções de dinheiro da Unesco) faz com que a cidade mantenha uma beleza incomparável e única na Guatemala.

Facilmente se caminha por toda a cidade, mas quem quiser pode apanhar um tuk-tuk de uma ponta à outra por 5 ou 10 Quetzals, embora não sejam permitidos circular no centro. Quetzal é o pássaro oficial e mais característico da Guatemala e, dada a sua importância, dá também o nome à moeda. Um dólar americano equivale a sete quetzales.

O parque central é, como acontece em muitas cidades, o centro por onde passeiam turistas, tanto estrangeiros como guatemaltecos, e onde há muito comércio de rua: gelados, licuados e muito artesanato. Num dos lados do parque fica a Catedral de Santiago, construída em 1542, destruída por sucessivos terramotos e constantemente reconstruída.

P1030860 Uma fonte no centro do parque

P1030864 A Catedral de Santiago

P1030861 Comerciantes vendendo artesanato (penso que depois de ver esta fotografia não há dúvidas de que estamos na Guatemala…!)

Visitámos também a ‘Iglesia y Convento de Nuestra Señora de la Merced’, ‘Iglesia de San Francisco’, ‘Las Capuchinas’ (também uma igreja e convento), o mercado, a ‘Escuela de Cristo’… Antígua parece ter mais igrejas por metro quadrado do que casas. Pagámos 5Q para entrar na ‘Iglesia de la Merced’, porque dentro tem uma fonte com 27m de diâmetro, uma das maiores da América Central. A fonte sinceramente não nos impressionou, talvez por serem apenas ruínas e não estar em funcionamento, mas a vista de 360o subindo ao primeiro andar do mosteiro era assombrosa.

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Caminha-se por um páteo que cobre toda a superfície do mosteiro e, por onde se olhe, há algo bonito. É realmente única uma cidade rodeada tão proximamente por três vulcões, o que torna a paisagem quase dramática. Para nós que visitamos é maravilhoso experienciar essa sensação, mas com certeza que para quem aí vive e sofre as consequências de tão bizarra vizinhança, as sensações serão outras.

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P1030874 P1030869 Uma senhora vendendo rosas e outras lavando a roupa nas pilas (espanhol para tanques).

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P1030883 P1030884 Algodão doce?

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Já tinhamos passado por duas cidades coloniais na Nicarágua, Granada e León, e ambas contagiantes pelos mesmos motivos: a arquitectura, os tons terracota e amarelos queimados, as ruelas com passeios inconstantes difíceis de caminhar até de chinelos de praia, os cafés e esplanadas, as praças e parques acordados 24 horas com comerciantes, a cultura traduzida em livrarias, museus e galerias e os mercados enrolados entre gritos de quem quer muito vender mais um saco de 12 mangas e nós, que estamos ainda a tentar aprender, o nome de todas as frutas que vemos pela primeira vez.

Ora Antigua é assim também, mas ouso dizer mais bonita.

Estamos na altura da Páscoa e a Semana Santa é celebrada com uma pompa e cirscunstância, equivalente apenas ao Natal. Antigua especialmente é a cidade onde os guatemaltecos da capital vêm em massa passar esta época. Os hóteis triplicam os seus preços, ouvimos histórias de pessoas que dormem em páteos e jardins porque não há quartos suficientes para todos! As tradições incluem o desenho incrível de alfombras pelas ruas, uma procissão que sai todas as sextas-feiras durante o período de Quaresma onde a larga maioria da população participa, entre muitas coisas que até este ponto não sabiamos ainda ter o privilégio de ir presenciar.

O curioso é que quando estávamos na ‘Iglesa de la Merced’ havia um constante entrar e sair de pessoas, novos, velhos e crianças que eram medidos e dados uma senha. Passados uns dias contaram-nos que esse é o ritual antes de cada procissão para se agrupar as pessoas de alturas semelhantes que querem carregar o altar nos ombros cada sexta-feira. Outro dia conto o quão impressionante é o altar e a quantidade de pessoas necessárias para o carregar- pensem em um número entre dez e cem…

A minha mãe contou-me que no Norte de Portugal todas estas tradições existem e continuam vivas. Mas eu sou da capital e, para além do meu rico Santo António, sou uma ignorante (até agora claro) em celebrações de teor religioso. A Carolina está mais a par de todos estes rituais e entretia-se a falar com as vecinas.

À noite fomos a um concerto gratuito de jazz ao ar livre, parte do Festival de Jazz de Antigua, que contava com o apoio da Embaixada Espanhola e, penso que também, Italiana.

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Vimos um quarteto italiano e, embora no início tivessemos demorado a aquecer para um estilo tão erudita, no final já aplaudíamos de pé; nós e o resto das pessoas. Aliás o concerto terminou com o público a gritar ‘otra! otra! otra!’. Foi muito curioso ver tão diversa audiência, desde turistas, a jovens guatemaltecos, ao senhor comerciante, tudo a bater o pé ao som do contra-baixo. O quarteto no final agradeceu emocionado e fartaram-se de tirar fotos e dar autógrafos.

12o Festival de Jazz de Antigua

Dia 61 Domingo 11.03.2012 Antigua e Jocotenango

Domingo é dia de alfombras e mais procissões pelas ruas de Antigua e aldeias vizinhas, como Jocotenango, San Filipe e Santa Ana. Alfombras são “tapetes” que cobrem as ruas por inteiro, feitos de flores, fruta e decorados com pó de diferentes cores. São as pessoas de cada aldeia que ano após ano se organizam e cada grupo cria um desenho diferente e em dia de procissão começam o pintar de ruas. O resultado final é verdadeiramente espectacular.

Em Roatán, nas Honduras, tinhamos enviado emails a um par de instituições de caridade e outras organizações (descobertas através do site www.entremundos.org) onde pudéssemos passar uns dias e ajudar no que fosse preciso. A primeira resposta que obtivemos foi de ‘El Buen Samaritano’ em Jocatenango, uma localidade a 5 minutos de Antigua. Esta é uma instituição que acolhe, durante o horário escolar, crianças desde um ano de idade até à adolescência. Funciona como escola primária, centro de tempos livres e oferece diariamente todas as refeições a todas as crianças (excepto jantar). Para além disso, também ajudam com a compra de roupa, lavandaria, ajuda com trabalhos de casa e organização de workshops adequados a todas as idades. Todos estes meninos (uns com dificuldades de aprendizagem) são de  famílias com poucos recursos, e no fundo é nesta instituição que aprendem coisas tão simples como higiene diária, a importância de poupar água e conviver com outros. ‘El Buen Samaritano’ é gerido por Magda Torres, um senhora de pulso firme e olhar doce, cujo irmão disponibiliza a sua casa para servir de sede à instituição. As instalações estão lá, mas os recursos são escassos. Dependem de doações, pois não recebem nenhuma ajuda financeira governamental. Quem quiser saber um pouco mais fica aqui o contacto da Magda: elbuensamaritano2000@hotmail.com

Cada Domingo a procissão começa numa localidade diferente, mas todas terminam em Antigua. Este Domingo a procissão começava em Jocotenango, então aproveitámos a oportunidade para ir visitar a localidade. De Antigua por 10Q/15Q apanha-se um tuk-tuk, um autocarro custa 2Q ou a pé são uns vinte minutos. Perdemos as alfombras porque chegámos demasiado tarde, mas era dia de feira e mercado de artesanato. Gostámos imediatamente de Jocotenango: tem uma praça com uma igreja imponente de tons laranja, todos caminham a passo desacelerado e pode-se almoçar por 10Q (3 x tacos ou 3 x fatias de pizza)!

P1030956 No tuk-tuk

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P1030959 P1030961 Jocotenango

Voltámos a Antigua de autocarro a tempo de presenciar a chegada da procissão desde Jocotenango. A quantidade de pessoas na rua era impressionante e, contaram-nos que, na Semana Santa o número aumenta e muito. Na procissão há um altar carregado por 32 homens e rapazes de cada lado, mais três à frente e outros três atrás, fora os que não vemos que ajudam debaixo. A eles chama-se cucuruchos e todos vão vestidos com robes e capuz roxos. As idades variam entre os dez e os setenta anos. Atrás uma banda de marcha criando o ritmo ao qual os cucuruchos caminham. Ao redor outras centenas de robes roxos caminham formando um cordão humano imenso. Atrás do principal altar, vem outro desta vez carregado apenas por raparigas e senhoras, ajudadas por um ou outro homem. Elas vão vestidas de negro e branco, com um lenço negro cobrindo a cabeça. As ruas são fechadas para trânsito e, todos saem à rua encostados às portas de suas casas, benzendo-se quando a procissão passa.

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Temos dois vídeos das procissões, mas problemas com as ligações à internet não permitem fazer o upload. Depois tento outra vez.

Dia 62 Segunda-feira 12.03.2012 Antigua

Como estávamos num impasse à espera de uma resposta da Magda, do ‘El Buen Samaritano’ para saber se sempre iamos passar aí uns dias a ajudar, passámos o dia por Antigua a passear. Entre cafés bebidos em lugares dignos de cenário de filme de época e passos preguiçosos pelas calçadas da cidade, chegou o entardecer. Ao ler uma revista com a agenda cultural e eventos da semana, reparámos que hoje era dia de cinema grátis, vimos ‘Como Água para Chocolate’.

P1030876 Duas senhoras artesãs

P1040011 P1040021 Duas senhoras que não são artesãs

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Dia 63 até 66 Terça até Sexta-feira 13-16.03.2012 Jocotenango - ‘El Buen Samaritano’

Tinhamos encontro marcado com a Magda para o meio-dia. Fomos para Jocotenango sem saber muito bem o que esperar e, também, sem saber o que era esperado de nós. A conversa correu bem e foi bastante franca. Basicamente foi-nos perguntado o que tinhamos para oferecer. Depois de mais palavras trocadas e inseguranças disfarçadas, ficou combinado aparecermos no dia seguinte às dez da manhã com actividades preparadas para os meninos mais novos da manhã e para os adolescentes à tarde.

P1040085 Cada autocarro está coberto de dizeres, como ‘Dios es Amor’, ‘Todas las mujeres son un problema’, ‘Yo manejo, pero Dios me guía’, fitinhas de cores fortes e luzes ao estilo de cortejo de festas de Verão. Este parecia feito à medida…

Pelo que percebi nestes países a maioria das crianças começa a escola às sete da manhã e terminam por volta do meio dia e meio. O resto do dia não sei muito bem o que fazem. Com certeza que ficarão em casa dos avós, ajudarão os pais com o seu comércio espalhado pelas ruas, brincarão com os amigos ou simplesmente nada. As crianças arranjam sempre alguma coisa para fazer.

Os próximos dias deste blog serão resumidos num só, visto o nosso tempo ter sido passado com as crianças do ‘El Buen Samaritano’ entre pinturas e colagens e perguntas sobre o que significava ‘Nossa! Nossa! Assim você me mata…!’. Fizemos o jogo da macaca de raíz cortanto e desenhando os quadrados; cortámos máscaras de coelho (com direito a elástco e tudo) e cada um pintou a sua; jogámos ao jogo da cadeira (o meu preferido de infância); fizemos serpentes com caixas de ovos; desenhámos com lápis de cor e aguarela e tentámos (em alguns casos com sucesso!) fazer malgas de pasta de papel (confesso que aprendemos a técnica na noite anterior no youtube!). Muito bonito foi ver a Carolina a fazer uma apresentação de power point sobre primeiros socorros para algumas das senhoras que ali trabalham e adolescentes que frequentam o centro.

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Dia 67 Sábado 17.03.2012 Antigua

Sábado e Domingo eram dias livres, porque a organização fecha aos fins-de-semana. Antigua ganha ainda mais vida Sábados e Domingos, porque fecham as ruas principais ao trânsito e enchem-se de artistas, pintores, artesãos, pessoas das aldeias Maya que vêm à cidade vender as suas artesanias e até vimos um espectáculo de marionetes protagonizado por uma rapariga italiana que assim anda a viajar entre Guatemala e México.

P1040119 Pelas ruas de Antigua

P1040113 Aguarelas

P1040109 Uma senhora muito atenta ao espectáculo de marionetes.

P1040141 P1040145 Pormenores de artesanato e pinturas

À noite, já a caminho da pousada escutámos música ao vivo e, como sempre, seguimos a melodia a ver onde nos levava. Desta vez levou-nos a um bar/tasco, mais típico impossível, cuja clientela variava entre um jovem com dois dentes e meio, homens de barba rija e pêlo no peito ao balcão bebendo garrafitas de aguardente e um casal escondido num canto. Entre outros episódios dignos de filme de western dos anos 50, vimos uma senhora, quem sabe com aguardente a mais, cambalear até à casa de banho; vimos um senhor tropeçando nas suas próprias palavras (tentar) sentar-se na sua bicicleta e seguir para casa e outro senhor dar uma gorjeta à banda e dedicar-nos uma canção sobre um jovem que foi do México aos Estados Unidos e fez-se homem rico na Flórida, com direito a Mercedes e casa de férias!

O melhor mesmo deste bar era a Dueña Carlota, ao seu dispôr, dona do estabelecimento. Uma senhora com idade entre os 65 e 85 anos, muito amável e, com certeza, com muitas histórias para contar.

A banda cantava canções românticas mexicanas e era composta por três amigos e o filho de 14 anos de um deles. Estas bandas andam de bar em bar, e quem quiser uma canção põe no bolso da camisa de um deles uma nota e, assim seguem pela noite fora cantando até a voz doer e os bolsos pesarem.

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Dia 68 Domingo 18.03.2012 Antigua-Santa Ana

Domingo significa dia de procissão e alfombras, desta vez em Santa Ana a menos de vinte minutos a pé de Antigua. Desta vez acordámos cedo, já que no fim de semana passada tínhamos chegado muito tarde a Jocotenango e perdido as cerimónias, e às dez já estávamos a observar os habitantes de Santa Ana a criar as suas alfombras. Para quem nunca viu, não há melhor forma de explicar do que mostrando fotografias. É um verdadeiro espectáculo o detalhe dos desenhos, o pormenor de um trabalho feito 100% à mão.

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P1040221 P1040356 Santa Ana

A procissão parte ao meio-dia e dura até às dez da noite, com saída de Santa Ana até Antigua regressando aonde começou. O trânsito é cortado por todas estas ruas e as multidões vêm da capital e de outros pontos do país, enchendo a atmosfera de um simbolismo que nunca presenciei por alturas de Páscoa. Os cucuruchos e as senhoras estão organizados por turnos e, por isso, é possivel que a procissão nunca pare durante todas estas horas. Todos levam junto ao coração um bilhete, preso por um alfinente, com a hora do seu turno e do outro lado uma imagem de um Santo. Fazia calor, provavelmente o dia mais quente desde que chegámos A Antigua, o suor pingava da testa de quem coberto por um robe e capuz roxo, cambaleava ao som da música de melodias fúnebres. Nós procurámos sombra dentro da igreja de Santa Ana, o local escolhido por muitos para comer o almoço comprado na praça. A igreja bonita, mas vazia era agora apenas um espaço branco e fresco sem imagens de santos, sem cadeiras ou bancos, apenas grupos de pessoas à espera da sua hora de ajudar na procissão… e nós. Todo o recheio da igreja estava a ser utilizado obviamente nas cerimónias religiosas.

A procissão sai e caminham por cima das alfombras, cujos restos são imediatamente limpos pelo camião da Junta de Freguesia que segue atrás. Muitas pessoas vão mesmo atrás do cortejo, de modo a serem as primeiras a recolher as flores, frutas e vegetais (também utilizadas no desenho e enfeite das ruas), muitas por necessidade.

Se estamos ainda a umas semanas do Domingo de Páscoa, imagino apenas como será na Semana Santa…

P1040330 Tudo feito com flores naturais

Dia 69  e 70 Segunda e Terça-feira 19-20.03.2012

Antigua-Panajachel

Segunda-feira voltámos ao ‘El Buen Samaritano’ e foi mais um dia de actividades, colagens, risinhos histéricos, roupa suja com dedadas de tinta de pessoas de meio palmo a chamarem-nos e expressões, umas tímidas outras extravagantes, de exclamação em relação a tudo!

Terça-feira às sete da manhã e, sob pingos de chuva incómodos, apanhámos o autocarro de Antigua para Panajachel no Lago Atitlán.

e seguimos…

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